Caríssimos irmãos e irmãs, graças e
louvores sejam dados a nosso Senhor Jesus Cristo! Neste mês, mais uma vez
teremos a oportunidade de entrar em contato com um texto importante da tradição
da Igreja. Desta vez, leremos parte da Imitação
de Cristo, obra clássica da espiritualidade católica, admirada por muitos
santos e escrita por um monge medieval chamado Tomás de Kempis.
O
tema da passagem escolhida é um tanto delicado: trata-se da morte. De fato, por
vezes, quanto medo e insegurança esta realidade inescapável não nos transmite?
No entanto, é justamente por nos lembrar de nossa finitude, de nossa
fragilidade, que a morte é um tema fundamental para a meditação do cristão: ela
nos recorda que esta vida é apenas um rascunho e que aquilo que realmente deve
ser buscado sobre todas as coisas é o Reino dos Céus, a Vida eterna. Não à toa,
diz o livro do Eclesiástico: “Em tudo o que
fizeres, lembra-te de teu fim, e jamais pecarás” (Eclo 7,40). Assim, leiamos as
duras palavras abaixo em espírito de oração e nos perguntemos honestamente:
estamos dando a esta vida o seu devido valor, de nos ajudar a alcançar a
eternidade, ou temos sido mundanos e terrenos demais?
“Mui depressa chegará teu fim neste
mundo; vê, pois, como te preparas: hoje está vivo o homem, e amanhã já não
existe. Entretanto, logo que se perdeu de vista, também se perderá da memória.
Ó cegueira e dureza do coração humano, que só cuida do presente, sem olhar para
o futuro! De tal modo te deves haver em todas as tuas obras e pensamentos, como
se fosse já a hora da morte. Se tivesses boa consciência não temerias muito a
morte. Melhor fora evitar o pecado que fugir da morte. Se não estás preparado
hoje, como o estarás amanhã? O dia de amanhã é incerto, e quem sabe se te será
concedido?
Que nos aproveita vivermos muito tempo,
quando tão pouco nos emendamos? Oh! nem sempre traz emenda a longa vida, senão
que aumenta, muitas vezes, a culpa. Oxalá tivéssemos, um dia sequer, vivido bem
neste mundo! Muitos contam os anos decorridos desde a sua conversão; frequentemente,
porém, é pouco o fruto da emenda. Se for tanto para temer o morrer, talvez seja
ainda mais perigoso o viver muito. Bem-aventurado aquele que medita sempre
sobre a hora da morte, e para ela se dispõe cada dia. Se já viste alguém
morrer, reflete que também tu passarás pelo mesmo caminho.
Pela manhã, pensa que não chegarás à
noite, e à noite não te prometas o dia seguinte. Por isso anda sempre preparado
e vive de tal modo que te não encontre a morte desprevenido. Muitos morrem
repentina e inesperadamente; pois na hora em que menos se pensa, virá o Filho
do Homem (Lc 12,40). Quando vier àquela hora derradeira, começarás a julgar mui
diferentemente toda a tua vida passada, e doer-te-á muito teres sido tão
negligente e remisso.
Quão feliz e prudente é aquele que
procura ser em vida como deseja que o ache a morte. Pois o que dará grande
confiança de morte abençoada é o perfeito desprezo do mundo, o desejo ardente
do progresso na virtude, o amor à disciplina, o rigor na penitência, a
prontidão na obediência, a renúncia de si mesmo e a paciência em sofrer, por
amor de Cristo, qualquer adversidade. Mui fácil é praticar o bem enquanto estás
são; mas, quando enfermo, não sei o que poderás. Poucos melhoram com a
enfermidade; raro também se santificam os que andam em muitas peregrinações.
Não confies em parentes e amigos, nem
proteles para mais tarde o negócio de tua salvação, porque mais depressa do que
pensas te esquecerão os homens. Melhor é providenciar agora e fazer algo de
bem, do que esperar pelo socorro dos outros. Se não cuidas de ti no presente,
quem cuidará de ti no futuro? Mui precioso é o tempo presente: agora são os
dias de salvação, agora é o tempo favorável (2Cor 6,2). Mas, ai! Que melhor não
aproveitas o meio pelo qual podes merecer viver eternamente! Tempo virá de
desejares, um dia, uma hora sequer, para a tua emenda, e não sei se a
alcançarás.
Olha, meu caro irmão, de quantos perigos
te poderias livrar e de quantos terrores fugir, se sempre andasses temeroso e
desconfiado da morte. Procura agora de tal modo viver, que na hora da morte te
possas antes alegrar que temer. Aprende agora a desprezar tudo, para então
poderes voar livremente a Cristo. Castiga agora teu corpo pela penitência, para
que possas então ter legítima confiança.
Ó louco, que pensas viver muito tempo,
quando não tens seguro nem um só dia! Quantos têm sido logrados e, de
improviso, arrancados ao corpo! Quantas vezes ouviste contar: morreu este a
espada; afogou-se aquele; este outro, caindo do alto, quebrou a cabeça; um
morreu comendo, outro expirou jogando. Estes se terminaram pelo fogo, aqueles
pelo ferro, uns pela peste, outros pelas mãos dos ladrões, e de todos é o fim a
morte, e, depressa, qual sombra, acaba a vida do homem (Sl 143,4).
Quem se lembrará de ti depois da morte?
E quem rogará por ti? Faze já, irmão caríssimo, quanto puderes; pois não sabes,
quando morrerás nem o que te sucederá depois da morte. Enquanto tens tempo,
ajunta riquezas imortais. Só cuida em tua salvação, ocupa-te só nas coisas de Deus.
Granjeia agora amigos, venerando os santos de Deus e imitando suas obras, para
que, ao saíres desta vida, te recebam nas eternas moradas (Lc 16,9). 9.Considera-te
como hóspede e peregrino neste mundo, como se nada tivesses com os negócios da
terra. Conserva livre teu coração, e erguido a Deus, porque não tens aqui
morada permanente. Para lá dirige tuas preces e gemidos, cada dia, com
lágrimas, a fim de que mereça tua alma, depois da morte, passar venturosamente
ao Senhor. Amém.”
por Pedro Ribeiro para o informativo Paroquial
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